Caminha, aveludado veneno ventoso.
Caminha… não vê que o vermelho de teu sangue
É verdade apenas à quem te verifica?

De viés, veja o velório das minhas virtudes
Junto ao velório da esperança de tua vinda.
Veja o verão dar lugar ao outono.
E minha veneração virar vil vacina contra vertigem.

Caminha! Vê vazar a dor desvairada!
Caminha, que só de perto a vida te avista!

Não viu que o sussurro que acende a vela envernizada
é uma via de mão dupla?
E o mesmo que acende a chama vívida da esperança tola
é o que por uma vileza qualquer pode vedá-la?

Caminha… mas não repara no vão imenso que vingará
E na vã tentativa de ocupar o vazio de você.

(R. R.)

Primavera II.

dezembro 2011

Para onde vão os sonhos
quando não estamos sós?
E essa coragem insensata
nos momentos de lucidez?
Os restos de alma vão para os cães?
E os restos de vida?

Viver é aceitar.
Mas aceitar perder a vida?
Mas por que, meu Deus, por quê? O que nos resta?

Resta viver uma vida morta.
Os sonhos não se vão. Se escondem para sempre
no momento primeiro de lucidez.
A coragem nunca existiu.
E você nunca existirá.

(F. R. N.)

Sentimentale

dezembro 2011

S. D.

dezembro 2011

Portanto dizes ser esta de raça
E mostra-te sorrindo assim de pé…
Não é que seja irônica a tua graça,
Mas é que teu sorriso assim o é.

Sorria e perceba que tua desgraça
É mais gentil que toda a tua fé.
Pois mesmo estando à sua caça,
ela concede chão para teu pé.

Não te esqueças nunca, porém
de que sorrir assim à toa cansa.
E que cansada perceberá, também,
esvair-se toda essa tua confiança.

(Tomás Bragança)

Primavera.

setembro 2011

Sabe o que mais?
Viver é aceitar.

Musa impiedosa.

junho 2011

Essa agora! Sabes o quanto amei a ti?
Tão inocente, não poupei-te coração
nem fogo para a chama do amor que acendi.
Quando o pranto me permitia descansar,
Sonhava contigo. Era lindo! Era tão doce
que no próprio sonho eu ansiava sonhar
que aquele lindo sonho teu nunca se fosse!

Para onde pensas que vais?
Ora pára, Musa minha!
Deixa dessa de adeus!
Não me priva do prazer
de olhar nos olhos teus!

Partirás à roupa do corpo mesmo assim?
Não entendo a pressa. Foste a mais bela Musa
das minhas retinas. Por que agora recusas
meu amor? Por que essa de fugires de mim?

Para onde pensas que vais?
Ora pára, Musa minha!
Deixa dessa de adeus!
Não me priva do prazer
de olhar nos olhos teus!

Por favor, não vá! Que a partida será má sorte!
E fará o meu peito em pranto eterno cair!
De pouco em pouco, meu coração irá ruir,
Até que no final só lhe reste a própria morte!

Para onde pensas que vais?
Ora pára, Musa minha!
Deixa dessa de adeus!
Não me priva do prazer
de olhar nos olhos teus!

(CN)

Ela Faz Cinema

junho 2011

Quando ela mente não sei se ela deveras sente o que mente pra mim…

Meu!

maio 2011

Não retirem isso de forma alguma,
Deixem o bater do meu coração!
O que eu sinto é meu, mesmo quando em suma
Só reflita o descaso e a ingratidão!

Saiam de perto, que é minha esta pluma!
De tão minha é quem dá-me a direção
E o sentido da vida, quando a bruma
Vem bater-me a face na contramão!

Me deixem! que com meu interior
me basto. Que a invejável lembrança
do que não vivi, é como a esperança

Que prenuncia um belo amanhecer.
E me faz crer que mesmo estando o amor
morto, já foi-me amável o colher.

(Tomás Bragança)

Sussurro.

maio 2011

[REALISMO]
Sussurrarei a ti discretamente
O quanto agrada-me a tua presença.
E não espero que isto a convença,
Contanto que eu possa ver-te contente.

[PESSIMISMO]
Caso o sorriso te fores ausente,
Te peço agora que apenas esqueças,
Perdoe esta alma – tola insolente!
Por quão importuno o sussurro pareça.

[OTIMISMO]
Mas se, ao contrário, sorrires pra mim,
Verás te sorrir minha alma imprudente,
E os meus olhos saltarem prontamente,
Rindo-se qual pássaros em pleno jardim.

Oh! Se apenas sorrires, sorrires assim,
Nascerei novamente, sereno enfim!

Inda que um dia disserem: “O sonho acabou”,
Caberá em meu coração a certeza de que
A felicidade maior e passível de ter,
Com teu sorriso, um dia, em mim se instalou.

(Arcanjo de Oliveira)

Presa naquela corda, lá se ia
minha esperança. O mar, abaixo estando,
contemplava admirado e chorando,
enquanto a louca, do alto, caía.

Despenque, esperança. Despenque ao mar!
E deixe comigo a certeza conferida,
De que eu nunca serei capaz d’alguém amar!

O que a tola esperança não sabia
Era o que o mar sofreu observando.
A corda que a devia estar guardando,
pelo vento ela agora se partia.

Despenque, esperança. Despenque ao mar!
E deixe comigo a certeza conferida,
De que eu nunca serei capaz d’alguém amar!

Ingênua esperança. Confiou vida
a uma simples corda, tênue fio…
Partiu-se agora com o vento que a seguiu.

Despenque, esperança. Despenque ao mar!
E deixe comigo a certeza conferida,
De que eu nunca serei capaz d’alguém amar!

(Tomás Bragança)